Sabemos que os ambientes laborais estão constantemente passando por mudanças e inovações e, com isso, é necessário que a área e os profissionais da saúde e Segurança do Trabalho sejam capazes de acompanhar tais mudanças, tendo sempre como foco o trabalho com ações prevencionistas e que busquem ambientes laborais seguros.
Recentemente, um evento não esperado acelerou e mudou o curso natural dessas inovações. O início da pandemia da Covid-19, que iniciou em 2019 e teve o seu estopim em 2020, acelerou profunda e repentinamente esse processo. Por mais que a mesma não tenha alterado o curso das mudanças que naturalmente já ocorrem, todos os setores sentiram o seu impacto. Entre as diversas modificações, algo que deve ser destacado nesse momento como um fator de mudança significativo é o trabalho home office.
Com a preocupação das empresas para com o isolamento social, principal fator prevencionista adotado durante a pandemia para tentar minimizar a propagação da doença, a saída encontrada para continuar as atividades foi a implementação do home office. Esse formato foi proposto para pelo menos, e estamos falando de milhares de colaboradores, aqueles profissionais cuja função não exige presença física em um local específico.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), pode ser previsto que essa nova forma de trabalho, onde o colaborador atua na sua própria casa, pode tornar-se realidade para pelo menos 18% dos trabalhadores no mundo e, dependendo do país, podendo chegar a 40%.
Além disso, um levantamento feito pelo SESI já demonstra essa tendência no Brasil. Os números mostram que 70% das indústrias afirmaram que não pretendem operar de forma totalmente presencial e 25% não planejam mais voltar ao formato.
Diante desses fatos, como fica a saúde e segurança do trabalho nesse novo cenário e como deve ser a atuação dos profissionais nessa área? Com a nova oportunidade desse sistema de trabalho, desafios são apresentados e devem ser enfrentados pelas organizações de saúde e segurança do trabalho, tais como: continuar a produtividade sem a presença de seu gestor, ter um escritório ergonomicamente adequado em seu próprio lar, dificuldade em conciliar tempo do trabalho e família, horários dedicados, abordagem de conflitos na vida familiar e até mesmo o isolamento e sentimento de solidão que são fatores psicossociais vivenciados pelos trabalhadores e que acabam contribuindo diretamente para transtornos mentais.
Antes de tudo, devemos ter o reconhecimento e a consciência de que passar por um momento de transição não é fácil e, agregado ao fato de que os efeitos pós-pandemia ainda são incertos, os profissionais e a área de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) devem estar ainda mais atentos aos novos desafios no mundo laboral e a essas novas formas de trabalho, na qual os profissionais estão expostos.
Com as novas mudanças, a maneira de relacionar-se também mudou. No momento pelo qual estamos passando é preciso, ainda mais, que os profissionais da segurança do trabalho encontrem novas formas e novas abordagens com um olhar integral sobre a saúde, considerando seu aspecto físico e cada vez mais o emocional, uma vez que, os fatores psicossociais vivenciados pelos trabalhadores são um desafio a mais enfrentado nesse momento.
A abordagem multiprofissional, com apoio da alta liderança e participação dos colaboradores, é essencial nesse momento. É papel das empresas tentarem, mesmo que exista esse distanciamento físico, deixar o colaborador integrado à empresa, e é papel da Segurança do Trabalho acompanhar tais avanços e monitorar de alguma forma.
E como sempre, as Normas Regulamentadoras, que regulamentam e orientam sobre os procedimentos relacionados à segurança e saúde do trabalho, precisam ser consideradas nas análises e ponderações sobre o futuro do trabalho e da SST. Em processo de revisão desde o ano passado, até o momento já foram atualizadas as NR’s 1, 7, 9 e 18. Como essas mudanças são recentes, e o futuro pós-pandemia é incerto, os profissionais devem ficar atentos às possíveis mudanças e até mesmo, quem sabe, à criação de uma NR que regularizasse o home office, uma vez que atualmente não existe uma regulamentação voltada para esse meio de trabalho, que fará parte da vida e já está sendo a realidade de milhares de colaboradores.
Para aqueles trabalhadores que voltaram para as empresas, a preocupação dos profissionais da SST deve focar em adaptar os ambientes laborais para garantir a volta segura do colaborador. Alguns protocolos devem e já estão sendo seguidos por algumas empresas, como o distanciamento, o uso de máscaras, medição de temperatura corporal na entrada e turnos alternados de trabalho. Além disso, a OIT divulgou orientações que incluem instalação de barreiras físicas, melhoria na ventilação, práticas de limpeza e higiene e adoção de horários flexíveis de trabalho.
Com isso, os profissionais da área de SST devem acompanhar tais mudanças para continuarem relevantes no mercado de trabalho e colaborando, de fato, para a promoção de ambientes laborais seguros e saudáveis.
Elisa Vargas Vilemberg – Docente do Técnico em Segurança do Trabalho no
Senac EAD