O futebol brasileiro andou agitado essa semana por conta da assinatura da Medida Provisória (MP) nº 984, que altera as regras de transmissão de jogos e permite contratos de trabalhos por 30 dias até o fim de 2020.
Em seu texto, a MP altera várias coisas, porém a alteração mais polêmica e que vem gerando discussões a favor e contra se dá no artigo 42, que altera os direitos de arena e transmissão, que com a MP passa a ser apenas da equipe mandante da partida, dando poderes a cada mandante negociar diretamente com qualquer emissora de TV ou streaming (Youtube e Facebook) a transmissão de seus jogos.
Quem é a favor diz que a MP irá desescravizar os clubes de contratos com a Rede Globo (que é atualmente a detentora dos direitos de transmissão) e dar poderes de negociar com outras emissoras.
Já quem é contra, ou não concorda (me incluo nessa lista), argumenta que os clubes com menos torcida irão sofrer serias consequências financeiras e irão perder poder de barganha nas negociações.
Vamos aos fatos. O motivo do título do texto não é por acaso, pois esta MP vem a beneficiar diretamente o clube carioca, que por sua grande torcida, os grandes jogadores do elenco e a excelente fase que atravessa, tem um poder de barganha maior para poder negociar suas transmissões, pois irá gerar a maior audiência a quem for transmitir seus jogos, ou vocês, caros leitores, acreditam que alguma emissora irá ter alguma dúvida entre comprar jogos do Flamengo ou comprar jogos do Bragantino por exemplo?
Outro fato que me faz ter convicção de que esta MP foi criada para beneficiar o Rubro Negro Carioca se dá pela maneira de como foi escrito o texto da mesma, pois esta foi assinada após algumas “visitinhas” do presidente flamenguista Rodolfo Landim ao presidente da República Jair Bolsonaro e sem a opinião dos demais clubes do futebol brasileiro, nem a própria CBF, que organiza os campeonatos nacionais foi ouvida.
Esta, assim como outras atitudes do Clube de Regatas Flamengo vem gerando críticas de jornalistas, dirigentes de outros clubes e até de torcedores mais famosos. A atriz Patrícia Pillar criticou a postura do clube do coração em seu Twitter dizendo que está quase virando a casaca para torcer pelo rival Botafogo e se referiu a direção Rubro Negra como “diretoria horrorosa” devido a forma de como o clube vem se posicionando.
Aqui no sul os presidentes da dupla Grenal Romildo Bolzan e Marcelo Medeiros se posicionaram contra a MP e estão com o discurso alinhado para que essa MP seja ao menos discutida e que todos os clubes participem sejam ouvidos, não apenas um. O Diretor Jurídico do Grêmio, Nestor Hein classificou como “arrogante”, a postura da diretoria Rubro Negra e fez duras e contundentes críticas. Em entrevista à Rádio Guaíba Hein falou da proximidade entre Landim e Bolsonaro e completou: "Essa medida vem para favorecer o Flamengo, um clube que sempre olhousomente para o próprio umbigo. Ela vem em regime de urgência, mas que urgência há agora em relação ao tema?". Por fim, o diretor tricolor elogiou a qualidade do elenco do Flamengo mas destacou a empáfia do clube. "O Flamengo, que formou um time magnífico, vem sendo bem dirigido no sentido do cuidado com patrocinadores. A única coisa que não mudou foi com sua empáfia. É uma gente nojenta, que se acha a última bolacha do pacotinho".
Para finalizar, realmente a excelente fase vivida pelo clube Carioca, com méritos, impressiona a todos pelos jogadores que possui no elenco, pela forma que o time joga, pela intensidade, enfim. Porém, todo esse sucesso parece que subiu à cabeça da diretoria de um clube que já era arrogante, pois é autointitulado como o “maior do mundo”, sem se quer ser o maior do Rio, muito menos do Brasil, pois perde em títulos para vários outros clubes do país. Nessa euforia toda, o Flamengo se deu o direito de achar que o futebol brasileiro se resume a somente ele e querer decidir pelos demais clubes, se aproveitou da proximidade que possui com o governo federal, se aproveitou da rusga entre o Presidente e a Rede Globo e apresentou uma proposta em forma de Medida Provisória para que ele mesmo se beneficie e dê continuidade em seu projeto de se tornar uma potência de nível Europeu, como como citou o comentarista da Fox Sports Flávio Sormani (que é conhecido por errar todas as suas previsões): “O Flamengo será um Bayern de Munique”. Acredito que o clube Carioca esteja a anos luz longe disso, pois se quer teve a honestidade (isso é levado muito a sério na Europa) de assumir as responsabilidades da tragédia do Ninho do Urubu no início de 2019 deixando dez adolescentes mortos e três feridos. Lembramos que o Flamengo liderou o movimento pela volta do Campeonato Carioca mesmo com a situação preocupante que vive o Rio de Janeiro em meio a pandemia, inclusive com um hospital de campanha montado ao lado do Maracanã onde foram registradas duas mortes por Covid-19 enquanto o Flamengo derrotava o Bangu por 3 a 0 na rodada denominada pela imprensa do centro do país como “a volta do futebol brasileiro”.
Mas enfim, a MP 984 é boa ou ruim então?
Em uma análise geral, não se trata de uma coisa ruim, num todo, pois a ideia de tirar o monopólio de apenas uma emissora é boa, mas para que isso se torne algo sério e sem suspeitas necessita da participação e da opinião dos demais clubes envolvidos nos campeonatos, não me parece uma coisa sensata apenas um clube decidir pelos outros sem um consentimento geral.
A título de informação, esta Medida Provisória (MP) precisará ser aprovada pela câmara dos deputados para se transformar em lei, o que acredita-se que não irá acontecer, pois há informações de bastidores de que os demais clubes estão se articulando para isso com alguns deputados. Mesmo que passe, a Rede Globo possui contrato de exclusividade de transmissão até o ano de 2024 e irá exercer esses direitos.
Por: Crizanto Alves Acosta
Redação GJ