No Especial: Dia Internacional Contra a Homofobia, a Coordenadora Municipal de Políticas para as Mulheres, Diversidade e Idosos, Cândida Navarro também falou sobre o assunto para o Gente Jornal.
Pergunta: Quais os principais desafios enfrentados pelas pessoas LGBTI+ na cidade de Bagé?
Cândida: Preconceito, discriminação nos grupos sociais e o abandono familiar. Dificuldades de permanência na escola, acarretando na dificuldade de qualificar- se para o mercado de trabalho. Ainda que escolarizados enfrentam um mercado de trabalho excludente, sem acesso às políticas públicas e garantia de atendimento específico. A exclusão pelo preconceito e a falta de empatia , deixam as pessoas trans, por exemplo, sem acesso ao atendimento clínico.
Pergunta: Quais os procedimentos utilizados pela coordenaria?
Cândida: A Coordenadoria vem desenvolvendo formas para atender as demandas trazidas por essa população. Criamos o primeiro espaço de política pública para a população Lgbti+ ; o primeiro Ambulatório Clínico para atender pessoas Trans; Disponibilizamos o acolhimento psicossocial e jurídico para a população Lgbti +.
Temos, ainda, como meta , a realização de encontros e rodas de conversas , em todos os bairros, sobre as questões de gênero, sexualidade, como forma de auxiliar as famílias a acolherem seus familiares Lgbti + , mediando e dando o suporte psicológico necessário na busca por soluções de conflitos e compreensão dos direitos humanos que devem assistir a todos.
Pergunta: Na sua opinião, Bagé ainda é uma cidade violenta e preconceituosa com a população LGBTI+?
Atualmente , vejo uma Bagé mais aberta , sou otimista , mas o preconceito é muito sutil , às vezes , passa desapercebido.
Temos muito o que evoluir !Há um trabalho sendo feito, mas ainda há muito a se fazer . O tempo mostrou muito discurso e poucos avanços e rara garantia de direitos.
Reaprender o que é respeito e o que é " ser humano " . Ter empatia , humanidade. Precisamos nos livrar do orgulho e do apego à cultura do querer saber mais da vida do outro e descuidar da própria.
Hoje temos um paradoxo cruel na cidade : uma parte da população Lgbti+ que é jovem , estuda, ainda que com alguns limites e imposições, trabalha, tem uma família que apoia e respeita e temos uma parte que está envelhecendo sem nunca ter tido um serviço público de qualidade, sem ter tido chance no mercado de trabalho formal ou sequer ter formação profissional e o que é pior : abandonados pela família. A prostituição foi o caminho que a própria sociedade , hipócrita e volúvel, conduziu parte da população Lgbti+ desassistida , desamparada .
Homofobia é preconceito, discriminação, ódio, desumanidade.
Homofobia é CRIME e como tal deve ser tratado , na forma da Lei.
A saída é a educação!
Precisamos educar seres humanos, desde o nascimento a serem humanos e não a serem meninas ou meninos . Humanidade é respeito.
Pergunta: Quais políticas são usadas pela coordenadoria com os objetivos para incluir estas pessoas na sociedade?
Cândida: As políticas públicas mais acessadas hoje, principalmente na pandemia , é a assistência social e a saúde. E, na justiça no que diz respeito à troca de nome e documentos das pessoas trans.
O nome é o primeiro requisito para a inclusão. Ser no papel o que sempre foi na vida. O apoio psicológico influencia e fortalece a pessoa a procurar o seu caminho, a lutar por seus direitos
Além de atendimento médico para pessoas trans em tratamento de hormonização , orientação para troca de documentos e a garantia dos direitos humanos em geral.
Realizamos o Tecendo Redes com objetivo de trabalharmos com os profissionais, desta Rede , as demandas , o combate à violência contra as pessoas LGBTI+.
A Coordenadoria , acolhe , conhece e atende, faz encaminhamentos nesses 3 eixos: psicológico, assistencial e jurídico. Acompanha e mantém um vínculo que ofereça alguma segurança e um socorro, se necessário.
Estamos fechando parceria com uma universidade que fará um estudo completo, com dados reais sobre população Lgbti+ de Bagé, pois não existe nenhum levantamento de dados ou informações que registrem as demandas , as necessidades e garantias dessa população. Com este trabalho pretendemos reunir , em documentário, os argumentos que irão implementar às políticas públicas que atenderão as demandas da população Lgbti+.
Pergunta: Quais as maiores demandas que chegam para vocês?
Cândida: Com certeza a demanda que mais chega a nó é a assistência social, em razão do desemprego ( com ajuda de alimentos).
Curiosidade
No dia 14 de março, completou 20 anos do julgamento pioneiro do desembargador bageense José Carlos Giorgis, ao reconhecer um casal homossexual como uma entidade familiar.
Um casal de lésbicas bageenses foi o primeiro casal homossexual a obter o direito a adoção na Justiça, obtendo sentença favorável em um tribunal superior .
Texto: Bárbara Cunha