Entender como nossos avós viviam no alvorecer do século passado, os desafios que enfrentaram, pode ser uma boa reflexão para (re)pensar questões socias atuais.
A humanidade no século XX enfrentou duas guerras mundiais, acidente nuclear de grande repercussão e grandes problemas de saúde pública, a exemplo da denominada gripe espanhola.
A antropóloga Lília Schwarcz (2020) comenta que, em torno de 1903, o Brasil sofria com doenças infecciosas como sífilis, lepra, peste bubônica e, em 1918, a gripe espanhola também afetou o nosso povo.
Porém, um dado muito importante que essa autora nos traz, é mencionar que, mesmo passados 100 (cem) anos, não houve grande alteração no modo de enfrentamento das crises sanitárias.
Isso porque, as medidas de prevenção adotadas um século atrás, são as mesmas medidas atuais, ou seja: o isolamento social, uso de máscaras, limpeza dos bondes (1918) com álcool, além da espera da vacina. Isso demonstra que, em termos de saúde pública, não houve avanços significativos.
Nossos avós e antepassados enfrentaram dificuldades sociais, períodos de guerra e escassez. A sociedade era conhecida como a “sociedade industrial”, a própria configuração do trabalho era desenvolvida em fábricas, longas jornadas de trabalho e sem proteção trabalhista.
Atualmente, se é certo que possuímos mais liberdade, maior flexibilidade no trabalho, é importante questionar até que ponto ou qual o preço pago.
No livro “A Sociedade do Cansaço”, o filósofo Byung-Chul Han, comenta que vivemos na era da “sociedade do desempenho”, na qual os indivíduos querem ser cada vez mais fitness, mais produtivos, mais empreendedores de si. Alerta o autor que toda essa pressão pela maximização do nosso potencial, também é capaz de gerar frustração, ansiedade, depressão, hiperatividade.
Estes são os diferentes preços pagos pelas diferentes gerações, nossa e de nossos avós. A atual era do indivíduo-empresa, que chama para si a responsabilidade de seu próprio sucesso ou fracasso, contrasta com um Estado cada vez mais descompromissado com as questões sociais. Com toda certeza, vivemos tempos de reflexão!
Fontes:
HAN, Byung-Chul Han. A Sociedade do Cansaço. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2017
SCHWARCZ, L.M. Quando Acaba o Século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2020
Texto: Adriana Bertollo