A entrevistada de hoje da coluna Damas da Bola é a lateral direita da categoria sub-18 do Sport Clube Internacional, Lirieli Buganti, nascida na cidade de Putinga e descendente da Itália, nossa jovem representa o Vale do Taquari. Apesar da pouca idade 17 anos, Lirieli já tem vários títulos em sua carreira. Ela começou defendendo a AEF de Estrela onde conquistou o Campeonato Gaúcho sub-15 numa campanha espetacular da equipe, esse titulo levou várias delas defenderem o Internacional. Em Porto Alegre ela foi campeã gaúcha sub-16 , Torneio de Desenvolvimento e o mais importante a Libertadores da América. Abaixo vocês conferem essa linda e precoce trajetória.
Com que idade você começou a jogar futebol?
Comecei com sete anos a jogar na escola com os meninos, logo após surgiu uma oportunidade para participar da escolinha do Chiquinho até então para meninos, mas onde conseguimos montar um time feminino para treinar com eles.
Qual posição você costuma atuar?
Jogo de lateral direita e já joguei de zagueira também.
Como foi que você chegou a equipe do Estrela?
Uma colega de serviço da minha mãe que iria fazer o teste para o time adulto sabia que eu gostava muito de jogar futebol e me convidou para ir também, isso em 2017, aí acabei passando e jogando o campeonato gaúcho em 2017 e logo ficando para a temporada de 2018 onde nos sagramos campeãs gaúcha sub-15.
Tua cidade ficava perto de Estrela. Como fazia para treinar?
Fica a umas quatro horas de viagem. No começo meu pai me levava todos os sábados para treinar, logo após comecei a ir sozinha de ônibus, ia na sexta-feira para treinar, treinava sábado e domingo e depois retornava para minha casa.
Qual a sensação de ser campeã sub-15 em cima do Internacional?
Foi uma sensação inexplicável, sonhávamos com aquilo, mas também que seria um jogo difícil.
E como aconteceu sua ida para o Internacional?
Foi logo após o campeonato gaúcho, onde surgiu a oportunidade de fazer o teste para a categoria sub-16 e acabei passando.
Como foi a adaptação no Internacional?
Me adaptei logo de início, fiz amizades rápido, fui me entrosando aos poucos, a parte que talvez tenha tido uma diferença foi em relação a frequência de treinos, pois era bem maior do que tínhamos antes.
A estrutura do Internacional para as atletas da base é boa?
Sim,contamos com uma comissão super empenhada, desde fisioterapeuta a preparador físico. Temos uma base muito boa em relação a muitos times do estado e do Brasil.
Como é sua rotina em Porto Alegre, você além de treinar estuda?
Estávamos treinando somente durante a manhã, a tarde tínhamos folga e a noite seria o nosso turno da escola, mas infelizmente veio a pandemia e não chegamos a ter aula presencial ainda.
Quando você foi para o Internacional, mais meninas do Estrela foram junto?
Sim, AEF foi uma máquina de revelação de grandes atletas, foram mais de cinco meninas selecionadas para fazer parte de diferentes categorias.
Você mora no alojamento do clube?
Ano passado morava em um alojamento com 10 meninas, esse ano estamos num apartamento entre quatro meninas, com uma estrutura melhor do que tínhamos.
Quem é hoje as atletas que você mais gosta de ver atuando?
Acho que a Marta sem dúvidas é a inspiração de todas meninas que jogam bola, mas não fugindo tanto da minha realidade tenho a Fabi Simões uma atleta de grande nível, com um futebol espetacular que me inspiro bastante.
Qual foi sua melhor partida pelo Internacional?
Sem dúvidas a final do Gauchão foi muito marcante, por poder coroar uma grande campanha durante todo o campeonato estadual e pude também salvar duas bolas impedindo o gol do time adversário.
Quantos títulos você já conquistou com a camiseta do Internacional?
Atualmente tenho quatro títulos com a equipe, um torneio no Uruguai, O Gauchão sub-16, Liga de Desenvolvimento e o mais recente o titulo da Libertadores.
No apartamento onde vocês moram em Porto Alegre quem faz a comida?
Ano passado éramos nós que fazíamos, costumávamos dividir as tarefas e sempre uma de nós era responsável pelas refeições, e felizmente esse ano almoçamos na casa das adultas e somente o café e a janta nós preparamos.
Hoje você atua pela categoria sub-18, é muito disputado a vaga na tua posição?
Quando você sobe de categoria a qualidade técnica das atletas vai melhorando cada vez mais, assim dificultando a disputa da posição. E esse ano não vai ser diferente tenho grandes concorrentes jogando na minha posição, então trabalhar forte o ano todo para que essa vaga seja minha.
Deve ser muito emocionante ser campeã da Libertadores da América. Você chegou a atuar pela competição?
Sim, tive grande felicidade de participar, enfrentamos grandes equipes e saímos com a taça em cima do Liverpool, sem dúvida foi a maior competição que já participei, você sempre sonha com a oportunidade de estar jogando um campeonato deste nível com uma grande equipe como a nossa. Voltar para casa com um título desta imensidão é gratificante demais, pois ali é a coroação de um ano de muito trabalho.
O que a Lirieli precisa evoluir em campo?
Estou num processo de formação, então não tenho dúvidas de que preciso me qualificar cada vez mais em muitos aspectos, cada competição que participo ou cada treino que faço vem agregando cada vez mais em relação as minhas qualidades táticas e técnicas.
Quais teus sonhos no futebol?
Todas as meninas que praticam futebol sonham em ter mais visibilidade, valorização no meio deste esporte, quero fazer com que a nossa geração seja a geração que mudou o futebol feminino, e que várias outras atletas tenham privilégio que nós estamos tendo, venho desde pequena lutando por isso. Sem dúvida alguma meu sonho é vencer essa guerra de desvalorização do futebol feminino e poder desfrutar de uma boa vida somente com o meu futebol, algo que hoje em dia se torna inviável para a maioria das atletas.
Hoje em Putinga tua cidade você com certeza uma referência para as outras meninas que jogam futebol. Existe mais talentos lá?
Putinga se tornou uma cidade privilegiada podemos dizer assim, tenho um a grande companheira e amiga de clube a Leticia Camilotti revelada aqui em Putinga também, desde pequena jogamos na mesma escolinha de formação de atletas, atua como volante no Internacional, Leticia chegou antes que eu e quando cheguei tivemos uma troca de aprendizados muito bacana, foi uma peça fundamental pro meu entrosamento com a equipe.
O que precisa ser feito para o futebol feminino ser mais valorizado e quem pode fazer isso?
A nossa categoria vem em uma crescente muito boa em relação a visibilidade, vem crescendo os números de competições, cada vez mais se tem surgido novas e grandes atletas, sempre tem algo sendo agregado, mas ainda não é o suficientemente para suprir as nossas necessidades, para compensar todo o esforço durante as semanas de treinos, durante os meses longe da família. A visibilidade é muito inferior ao masculino, e pra isso mudar depende muito do interesse da sociedade, vivemos em um mundo muito machista, onde homens não “perdem tempo” assistindo a uma partida de futebol feminino, esses que vão aos estádios, é difícil você não escutar alguma piadinha machista em cima das atletas.
Quem é o teu principal incentivador?
Apoio do meu pai e da minha família nunca faltou, vejo ele como o meu maior incentivador, sempre me liga procurando saber como foram os jogos, como foi a minha atuação, me dá conselhos pra melhorar sempre, nunca faltou apoio dele, meus professores de quando eu era menor me incentivaram a ser quem eu sou hoje e devo muito ao David também, que me deu uma boa base em um clube do interior que abriu as minhas portas para o mundo do futebol ter conquistado os títulos do ano passado com ele, foi a certeza de que ele é um grande profissional e uma pessoa de um coração enorme.
Como está fazendo para treinar durante a pandemia?
O Internacional tem nos mandado uma cartilha de treinos durante todas as semanas, realizamos da maneira que podemos em casa através da esteira, correndo na rua ou até mesmo no campo eu consigo realizar as atividades. Não vem sendo uma tarefa fácil, ficar tanto tempo longe das companheiras e dos gramados me deixa muito aflita algumas vezes, mas logo essa fase ruim vai passar e voltaremos mais fortes.
Quanto tempo você fica sem ver a tua família quando está em Porto Alegre?
Fico geralmente em torno de um mês longe da família. Mas sempre que dá procuro passar um fim de semana em casa e matar um pouco da saudade de todo mundo.
Ficha Técnica
Nome: LirieliBuganti
Idade: 17 anos
Posição: Lateral direita
Altura: 1,58
Peso: 52 kg
Cidade: Putinga
Clubes: AEF e Internacional
Por: Cléo Moura
Redação GJ