Reflexões sociais aleatórias para indivíduos não-carnavalescos
Não! O título acima não se trata de nenhuma marchinha de carnaval, mas de uma frase contida no livro “Homo Deus”, de YuvalHarari, utilizada pelo autor para comprovar a afirmação de que “a única grande constante da história é que tudo muda” (HARARI, 2018, p. 75). Caso esse diálogo se processasse com algum egípcio nascido séculos antes de Cristo, seria impensável uma sociedade sem a existência de Faraós.
Portanto, a incontestável assertiva de que tudo constantemente muda é corroborada pelo longínquo fim do reinado dos Faraós, no antigo Egito, e isso évalidado pelo ensinamento contemporâneo de Bauman, no sentido de que vivemos uma vida líquida, em uma modernidade líquida, ou seja, as transformações individuais não se solidificam, estão em constante mutação. Vivemos em uma incerteza constante, a vida move-se de forma líquida, sem embasamentos sólidos.
As mudanças tecnológicas experienciadas, principalmente, a partir do final do século passado, atropelaram as certezas de quem sequer havia sonhado com a era digital, salvo se houvesse assistido algum filme de ficção científica, a exemplo de Star Wars na década de 70.
A velocidade com que se processam transformações, em nosso “mundo líquido”, é confirmada pelo longo espaço de tempo em que ocorreram mudanças sociais a partir de invenções importantíssimas ao desenvolvimento da humanidade: o arado e a locomotiva a vapor; contrastando com a velocidadecom que tudo vem ocorrendo depois da invenção do microchip. A partir do microchip o mundo conectou-se em rede, as distâncias diminuíram, as fronteiras entre os países caíram e, questiona-se, que a liberdade tenha diminuído.
Nosso mundo atual, recheado de oportunidades e também de exclusões sociais, navega por águas turbulentas já que as necessidades consideradas “básicas” foram amplificadas, a ponto de que um celular de “última geração” se torna indispensável e, para alguns “necessitados”, não há como viver sem.
Portanto, nesse período de carnaval, como toda unanimidade é pouco inteligente, certamente alguns irão aproveitar a festa e estará “tudo certo”. Para os demais, não carnavalescos, fica o convite à reflexão, ou convite à criação de uma nova marchinha: “éramos felizes e não sabíamos?”, ou então: “se soubesse teria feito antes?”.
Qual o seu “bordão” nesse carnaval?
Referências:
BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2011.
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.