Coluna Mauricio Campos
Bagé está vivendo o espectro do autoritarismo, pois há homenagens para destaques sociais e empresarias da cidade com o nome do ex – presidente Emílio Médice.
Conforme a história, Médice foi o punho de ferro da ditadura militar; foi em seu governo que as prisões, perseguições e torturas a opositores do regime militar robusteceram. O militar foi o autor da notável frase que remetia ao patriotismo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Frase, esta, reescrita, recentemente, por uma liderança local – tal liderança afirmou em rede social que se o povo não estava contente com seu governo e com as praticas adotadas por ele que fossem embora, saíssem da cidade.
Acredita-se que os dois historiadores de Bagé – um de esquerda e outro de direita: Professor Bolsinhas e Cláudio Lemenzeck, respectivamente, concordem no ponto de que Emílio Garrastazu Médice foi um autoritário – beirando a tirania.
Segundo educadores e estudiosos de história, o militar, em questão, fortaleceu o regime repressivo alegando luta contra guerrilhas, contra comunistas e contra pessoas que, em tese, por discordar não contribuíam com o desenvolvimento do país.
Tais frases remetem ao discurso de Mussolini e de Hitler, pois esses dois tiranos alegavam que judeus, comunistas, índios e ciganos eram o que prejudicava a sociedade e o desenvolvimento dos seus respectivos países. Nosso presidente, remete-nos a este nebuloso tempo ao afirmar que MST, LGBTI, negros, mulheres, opositores e críticos são maricas e temem uma gripezinha. Ele nos remete aos tempos sombrios da história ao mandar o Ministro da Saúde para fomentar fake news na Amazônia, através da Cloroquina – um medicamento sem eficácia comprovada contra a COVID – 19.
Voltando a terrinha, a comenda Médice foi criada por um governo herdeiro dos militares, pelo antigo PDS; foi criada por um político que votou a favor a Collor, que foi prefeito imposto pelos militares e, a posteriori, tornou-se a viúva do regime repressor; um gestor que atrasou mais de 24 meses o salário dos servidores municipais. No final de 2020, a ex - vereadora Sonia Leite recebeu a medalha, pois foi, por mais de 10 anos, uma parlamentar exemplar – lutando pela ética e pela democracia. A ex - parlamentar ficou famosa pelos seus discursos contra a corrupção dos governos petistas – ela afirmava ter urticárias e paralisias; todavia, não sentiu urticária ao receber uma homenagem com a imagem de um presidente do período ditatorial e sombrio deste país. Será que ela, que falou na tribuna ter ojeriza de quem tentou matar Bolsonaro, está com ojeriza do que está ocorrendo no Amazonas? Será que a decana do parlamento Bajeense sentiu arrepios ao saber que a vereadora socialista, Mariele Franco, foi assassinada, em uma emboscada covarde e canalha, por milicianos do Rio de Janeiro?
Outro cidadão, recentemente, recebeu a homenagem citada acima, foi Frei Álvaro Bordignon – um capuchinho. Certamente, ele merece, assim como a ex- vereadora, todas as homenagens, pois são dois cidadãos destaques na nossa região. Sonia, uma eximia parlamentar que lutou, em tese, contra a desigualdade social e a fome; o frei – um capuchinho seguidor de São Francisco, um homem que defende a vida, que luta contra as crueldades contra animais e seres humanos. Será que esta era a homenagem correta? Dois ícones de defesa da democracia recebendo uma medalha que remete a um ditador que, segundo a história, foi um dos piores do período militar que assolou o país.
Não quero ofender ninguém, muito menos os homenageados ou os familiares do ex – presidente, mas não posso deixar de tornar público os fatos históricos. Acredito que o prefeito trouxe à tona tal homenagem para estreitar, mais ainda, os laços com o governo federal – um governo militar do século XXI. Contudo, poderia e pode haver outras homenagens mais adequadas, não? Homenagens como: Medalha Tiradentes, Medalha Bento Gonçalves, Medalha General Neto, Medalha Justino Quintana, Paulo Brossard, átila Taborda, Pe – Fredolin Brauner, Morvan Ferrugem, Dom Angelo Mugñol, Antenor Gonçalves Pereira e etc.
Por: Mauricio Campos