Opinião

O HINO GAÚCHO (RIO GRANDE DO SUL) É RACISTA?

Coluna do jornalista Mauricio Campos.

Por Gente Jornal

13/01/2021 às 18:57:53 - Atualizado há
Lanceiros Negros / Imagem: Reprodução

Há algum tempo surgiu o debate sobre o hino do Rio Grande do Sul ser ou não racista; na posse dos vereadores eleitos de Porto Alegre – capital dos gaúchos – alguns parlamentares negros, ligados ao PSOL e PT, negaram-se a cantar o hino, pois no entendimento dos edis a letra traz conotação racista ao afirmar que quem não tem virtude acaba escravo.

Recentemente, o Deputado Estadual do PT, Luiz Fernando Mainardi, em parceria com a vereadora Bajeense, Caren Castencio, e com a vereadora de Porto Alegre, Laura Sito, adentrou com um projeto de lei a fim de alterar o hino e fomentar a inclusão. Tal projeto, tem no seu bojo a reparação das injustiças históricas que este país e este estado fizeram para com os negros.

A parte que está em discussão da obra é a seguinte: “…, mas não basta para ser livre, ser bravo, aguerrido e forte – povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.”

Até que ponto esta passagem é racista? Até que ponto tal passagem torna o hino racista?

Lembremo-nos que nada é estanque, ou seja, imutável, estagnado, portanto a cultura, as tradições (rodeios, corridas de cavalos e cachorros) e obras como hinos podem ser mudadas.

A discussão sobre este tema é válida, pois como perguntei no inicio – será que o hino é racista? Lembremo-nos que ele foi escrito e composto por homens brancos e em um período escravocrata e de políticas nebulosas.

O compositor, Francisco Pinto da Fontoura e o maestro - um comendador da corte que havia se mudado para o sul do país -  escreveram três versões, porém após 100 anos do fim da Revolução Farroupilha houve alteração na letra e a atual, que conhecemos, tornou-se oficial, logo é equivocada a tese de nunca ter havido alteração ou desejo de alterar trechos ou estrofes do hino, como o setor de tradições gaúchas do município afirmou.

A parte retirada do hino, conforme o site: atmosferaonline.com.br, foi a seguinte: “… Entre nós reviva Atenas. Para assombro dos tiranos; Sejamos gregos na Glória, E na virtude, romanos”.

Todavia, o debate traz à tona a seguinte questão: Será que o hino e seus compositores entendiam que negros não tinham virtude, embora fossem aguerridos, bravos e fortes? Os negros eram bons para o combate e agricultura, mas não para a liberdade? Saliento esta questão, pois na estrofe retirada, citada acima, o hino era claro: “Sejamos gregos na Glória, E na virtude, romanos”. Ou seja, a glória deveria ser realizada como as feitas pelos intelectuais gregos e as virtudes como os Romanos Brancos e europeus.

Outra hipótese que vem à tona é o seguinte: O hino foi composto, logo após a proclamação da República Riograndense, ou seja, tal estrofe pode estar se referindo ao povo gaúcho como um todo, pois não se curvaram aos desmandos do império e as imposições tirânicas da corte portuguesa.

No entanto, o que importa é que o debate é interessante e salutar, além de necessário. Caso as conclusões dos debates, diálogos e estudos sejam que há conotação racista, muda-se a estrofe como foi feito em 1934, simples assim – pois como já foi dito, cultura, tradição, costumes e afins são mutáveis.

Para concluir, trago o seguinte exemplo: Recentemente, um ex- colega de Rede Pampa de Comunicação postou em seu instagran a bandeira do Rio Grande do Sul com a seguinte frase – “povo que não tem virtude, muda a letra do hino”. Coloquemo-nos no lugar de quem está defendendo a tese da mudança da letra, será que eles não têm virtude?

Por outro lado, coloquemo-nos no lugar de quem entende que, como gaúchos, podemos interpretar que o hino retrata a luta de todo o povo do sul, ou seja, a coragem e a virtude de não se dobrar, de não se tornar subserviente ao império e a uma elite branca e ruralista da época

Lembremo-nos que foram debates e embates assim que culminaram com o direito da mulher trabalhar, votar, com o fim da escravidão e tantas outras conquistas.

Por: Mauricio Campos

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