Opinião Histórias

GUERREIRA DA LUZ

Histórias baseadas em fatos reais e fictícias, contadas através de vivências de mulheres simples e complicadas... guerreiras, que lutam dia a dia..., cada uma com seu valor e suas peculiaridades, mas todas com um mesmo ideal: Proteger os seus e ser feliz!

Por Gente Jornal

03/12/2020 às 09:58:45 - Atualizado há
Imagem captada web

Depois de conhecer esta história, não precisei pensar muito em um título para ela, admiradora das obras de Paulo Coelho esse é perfeito, e também com extensão de inspiração onde ele fala do “Bom Combate” – O Diário De Um Mago (1987), [...] O bom combate é aquele que é travado porque o nosso coração pede.[...]. Não farei citações da obra que cujo o título carrega, a história fala por si mesma. Atualmente ELA, conquistou com muito esforço um grande “feito” em sua vida, escolhi sua história dentre tantas, pois ELA é inspiração! ELAmerece aplausos de pé!

Para contar sua história ELA, busca suas lembranças mais antigas, e elas surgem doloridas e inquietas: “Quando tinha mais ou menos 5 anos, lembro me que meus pais nos davam para outras família, não entendia muito o por quê, mas lembro - me de uma família que tinha um casal de filhos adolescente e ficávamos sozinhos, pois o casal viajava. A filha , era muito ruim para mim, colocava cocô, no meio de um pão e queria que eu comesse  a força, nunca comi. O irmão dela, colocava um lençol na cabeça e desligavam as luzes e ele dava uns urros, para dizer que era fantasma. Peguei pânico do escuro. Chorava muito, por isso fui devolvida para meus pais.

Não demorei muito para ser dada para uma professora, que desejava ter filhos e não conseguia engravidar. Fui tratada com todo o carinho, presentes, roupas novas, uma escova de dente, só para mim!” em meio a esta fala ELA sorri: “- Sim,porque éramos muitos irmãos e uma única escova.

Eles viajavam, posavam em hotéis e eu junto, dormia no meio deles. Mas...a professora,morava na mesma vila que meus pais.Tinha carinho, boa alimentação, higiene, enfim, tinha tudo para me sentir feliz! Porém não havia uma noite que eu não chorasse de saudades de minha mãe e não me perguntasse o por quê?Até que um dia estava brincando com uma bola no pátio da casa, toda fechada com grades e tela e minha mãe passou para ir numa costureira com todos meus irmãos, me agarrei naquela tela, chamava pelo nome, chorava, e ela friamente passou sem olhar. A senhora, saiu me abraçou e disse,que éramos muitos e que ela dava as meninas, para que fossemos melhor cuidadas, e garantir um futuro melhor. Eu não quis saber de nada disso, queria dormir numa cama de casal com mais 4 ou 5 irmãos, escovar com a mesma escova, sei lá, só queria estar junto de minha mãe. Apanhava todos os dias, hoje percebo que era porque tinha necessidade de chamar a atenção. Mas estava em casa.

Então veio a adolescência, e com ela muitos sonhos, estudar, ser professora, trabalhar, ter meu próprio dinheiro, construir minha casa!

Sempre pensava se um dia tiver filhos, nunca darei para ninguém criar, comerei pedra! Mas não abandonarei meu filho!

Eram muitos pensamentos, um que me atormentava era, porque e para que eu nasci?

Meu pai dizia que mulher não precisava de estudo, só saber ler e assinar o nome. Por esse motivo, sai da escola com 11anos, passada para a sexta serie.

Aos 8 anos fui trabalhar em troca de umas calcinhas e chinelo havaiana.

Com 14 anos fui assumir um emprego de doméstica, era babá, cozinheira e faxineira. Fiquei até meus 17 anos. Estão veio minha primeira paixão, mas  meu pai fez de tudo para que eu não namorasse o rapaz, porque éramos pobres e ele era filhinho de papai – assim que se referia a ele. Por outro lado, a família dele também não queria que ele namorasse uma doméstica.

Um dia me surpreendi, quando fui para casa, meu pai tinha arrumado um casamento para mim, porque eu já estava na idade de casar. Putz, eu chorava muito, mas não me animei a dizer que não. Quase um ano de tortura, então tive coragem e disse NÃO! Fui excomungada, fui para outra cidade trabalhar, era telefonista na casa de uns bacanas. Conheci,um rapaz que era militar.Em um ano juntos, engravidei. Me prometeu casamento e mandou que eu falasse para meu pai, para que preparasse o terreno. Então falei, que estava grávida e que casaríamos em janeiro. Meu pai falou que era para eu trazer ele em casa, e quando retornei e fui falar para o pai do meu filho que o meu pai queria conhecê-lo, ele debochou de mim, e disse ter me conhecido sem família e assim seria. Retornei para casa. Meu pai ao percebe que ele não ia lhe falar, disse que eu teria que ir embora, porque na casa só tinha uma mulher que era minha mãe. Fui morar com minha sogra e ele, ali eu conheci o inferno. Grávida, acordava com revolver na cabeça, ele jogava-me facas, água quente, queimava minhas mãos com cigarro, foram nove meses de muito choro, pois não tinha um dia que eu não lembrasse dos conselhos da minha mãe: Que eu não confiasse em rapazes de cidade, que para eles eu era número, só mais uma. Meu pai era rígido, difícil de lidar, mas gostava muito dos netos. Então assim que ganhei meu bebê, voltei para casa dos meus pais. Não foi nada fácil, pois no começo ele não queria olhar para meu filho, disse que poderia ficar, mas as regras eram maiores. Meu pai era alcoólatra, me batia muito depois que fui mãe, eu me submetia pois não tinha nada, nem onde cair morta. Minha mãe se comprometeu a cuidar meu filho, para eu trabalhar. Arrumei um emprego numa estância como cozinheira, por meio salário e meio litro de leite. Enquanto meu pai, foi para justiça para o pai do meu filho dar pensão e dar o nome para o menino, me revezava entre o trabalho e as incansáveis audiências no fórum. Meu filho ganhou pensão até 11 meses, foi tenso porque quando não tinha nada depositado eu ia no fórum reclamar e chamavam o pai do meu filho para me dar em mãos a pensão,  mas quando saia dali,ele me pegava na rua e eu apanhava em via pública com plateia e tudo. Até que um dia ele que já estava com outra pessoa , fardado com as roupas militares e sua nova esposa me deram uma tunda ela me segurava e ele me batia, chamaram a polícia e os policiais mandaram ele sair no meio a multidão porque estava fardado e podia se complicar então não achando justo, quis questionar os policiais e eles me agarraram e eu dei um ponta pé em um brigadiano, fui jogada dentro um camburão e levada para delegacia,respondi por desacato a autoridade. Desse dia em diante, resolvi não querer mais a pensão.

Alguns meses depois, outro rapaz que conhecia desde criança, fomos colegas de aula e sentávamos juntos na mesma classe, e sempre dizia que quando eu crescesse iria casar comigo, me fez uma proposta de me ajudara criar meu filho.

 Minha vida era muito difícil, mãe solo, trabalhando por uma miséria, apenas para não deixar faltar nada para meu filho. Resolvi aceitar, e começamos nos relacionar, não sentia amor por ele, mas era bom para mim. Ficamos um ano escondidos, saia a noite para me encontrar com ele, até que um dia meu pai descobriu, quis quebrar um banco na minha cabeça, disse que se eu engravidasse novamente ele me colocaria para fora de casa, com quantos filhos tivesse. E eu já estava grávida e não sabia. Meu pai chamou o rapaz para conversar e disse que se ele ia me assumir que então me levasse para morar com ele e que o menino ficava com eles até nos ter uma casa. Continuei trabalhando na estância dava todo o dinheiro para meus pais. Meu companheiro, vestia e calçava meu filho. Ele mandou que eu voltasse a estudar, para ajudar a me estabilizar na vida, porque tinha que pensar no futuro do meu filho. Assim, se fez,fui apoiada, incentivada.

Meu segundo filho perdi com cinco meses de gravidez, cai sentada.

Segui minha vida trabalhando duro, conquistei minha primeira casa.

Nesta altura, tudo parecia perfeito!

Engravidei novamente. O filho mais velho já era mocinho.

Moramos todos juntos eu e meus filhos! Marido trabalhava vinha quando podia. Eu estava feliz”.

As coisas foram acontecendo na vida desta guerreira, que passou por muitas dificuldades, que não pararam por aí, teve perdas irreparáveis na família.

“Tive que fazer escolhas muito difíceis...eu sem ninguém para dividir e ninguém para somar...”

Nesta fase de sua vida, mudou de cidade, agora dividia a casa apenas com o filho mais velho[...]convicta de que Deus não te dá uma cruz maior que suporte carregar [...], precisava se refazer, mudar, sobreviver e dar atenção ao guerreiro que lutava ao lado dela desde pequeninho.  Apoiou, fez de tudo que pode por este filho, queria sempre o melhor para ele, mas respeita sempre suas escolhas.

“ Me orgulho de ter feito dele um homem digno, honesto e trabalhador. O Drº, que sonhei para ele não aconteceu, mas graças à Deus não tenho do que me queixar.

Quanto aos meus pais, independentemente da forma que fui tratada, não os desamparei na sua velhice e principalmente quando adoeceram! Passei muitos anos do lado deles os cuidando.

De todas as coisas ruins que vivi, muitas coisas boas aprendi.

Não sou uma pessoa triste, tenho alguns momentos tristes.

Continuo na luta,estudando, lendo, vivendo.

Minha vida amorosa é uma tragédia. (fala em risos).

Tenho amigos incríveis!

Muitos gostam de mim outros nem tanto.

Me defino como uma sobrevivente desse mundo hipócrita!

Busco a Deus sem estar dentro da igreja.

Enfim, assim caminha a humanidade!”

Essa ELA, representa cada uma de nós, e muitas outras mulheres que já não estão mais entre nós, com suas lutas e sofrimentos, muitas vezes apenas por ser MULHER! ELA é uma pessoa abençoada que tive o prazer de conhecer, sempre ajudando a todos, e todos mesmo, é uma guerreira incansável na luta do bem. Essa sua história com mínimas intervenções nos traz muitas reflexões. Estamos vivendo um período difícil, atípico devido a pandemia, vamos fixar nossos pensamentos no que temos de positivo neste momento: saúde, alimentos, família com saúde, que apesar das dificuldades e do medo que nos cerca, possamos refletir sobre o BEM, o bem que temos e que podemos fazer a quem precisa.  Independente da situação, não sinta pena de si mesmo, este é um dos piores sentimentos, chore se precisar, grite se precisar, mas no final, não chegue ao final, se reinvente, assim como a Guerreira da Luz! 

P.S Girassol

Por: Daiana Etcheverria

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