Opinião Futebol Feminino

VICTORIA, PROFESSORA QUE DIVIDE SEUS ENSINAMENTOS DE VIDA DENTRO DE CAMPO COM SUAS COLEGAS DE EQUIPE

Ela atua na lateral direita do Brasil de Farroupilha desde o ano de 2019

Por Gente Jornal

09/10/2020 às 09:39:25 - Atualizado há
Foto: Arquivo Pessoal

– Cara, eu tenho um carinho enorme pela equipe de vocês. Sério mesmo, as gurias são super humildes e jogam MUUUUITA bola. Tem uma torcedora especial aqui em Caxias. Eu acho muito importante sempre ter essas equipes que projetam atletas, que apesar das dificuldades não medem esforços.

Com esse pequeno depoimento apresentamos para vocês a nossa entrevistada da coluna Damas da Bola Victoria Carpowinski, lateral direita de Caxias do Sul, que defende o Brasil de Farroupilha desde o ano de 2019.

Victoria é professora de Educação Física e exerce a função numa escola de Caxias do Sul. Tendo iniciado sua carreira no futsal Victoria demorou um pouquinho para se adaptar ao futebol de campo, mas passado esse período ela conseguiu ajudar muita a equipe na campanha que levou o Brasil deFarroupilha a tão almejada vaga ao Campeonato Brasileiro da Série A-2.

Victoria deixou muito claro na entrevista quais são os objetivos do Brasil para esse Campeonato Brasileiro que é conseguir o acesso para a elite do futebol feminino nacional e conhecendo a união desse grupo de atletas sabemos que podemos sim acreditar numa grande campanha, ainda mais agora que a equipe durante a parada por conta da pandemia novos reforços chegaram e encorparam ainda mais um elenco já bem forte. Abaixo vocês vão poder conferir a trajetória da Victoria, a professora que segue dividindo seus ensinamentos de vida dentro de campo com suas colegas de equipe, mostrando ser muito focada e com seus objetivos muito bem definidos e que segue a passos firmes trabalhando dia após dia não só pensando no seu time e sim no crescimento geral das competições femininas para que mulheres como ela possam desfilar seus talentos por cada canto do nosso estado.

Como foi seu começo no futebol?

Comecei jogando futsal em uma escolinha do meu bairro, se chamava ESCOLINHA CONEXÃO. Treinei lá dos meus seis aos nove anos. Participamos de estaduais e tive uma experiência bem legal. Porém, quando minha família mudou-se de casa, eu fiquei um período sem treinar, apenas jogando na escola.  Voltei a treinar mesmo em 2014/2015 onde entrei em uma equipe de futsal aqui de Caxias do Sul. A equipe é o Olímpia AABB, e atuo lá até hoje. Ganhamos várias competições locais e algumas regionais, mas não chegamos a disputar nenhum estadual. Nessa equipe de futsal, algumas meninas começaram a trocar ideia comigo para ir fazer uma experiência no campo. Ver como eu me sentia. Enrolei, enrolei e até que em 2019 fui. Comecei os treinos no Brasil de Farroupilha e sigo na equipe até hoje.

E como foi a sua adaptação ao futebol de campo?

No começo foi bem complicado. Eu tinha umas manias do futsal que custaram a sair. (risos) Precisei fazer muito trabalho específico fora para conseguir uma adaptação melhor. Ver muitos vídeos das referências da minha posição me ajudou bastante. Claro que é um processo demorado, mas me sinto bem mais a vontade tecnicamente agora.

Qual foi o teu jogo mais marcante em 2019?

Tiveram vários que me marcaram. A estreia contra a João Emílio, em Candiota foi bem marcante. A minha primeira lista, a primeira viagem e saí de titular em uma posição bem difícil em um sistema novo. O primeiro contra o Inter (meu time de infância) nas castanheiras. Mas sem sombra de dúvida, a final do Interior o jogo mais marcante, mais difícil e mais comemorado de todos. Nos dedicamos muito para chegar naquele momento. Frio, calor, chuva, temperatura negativa. Foi um processo muito longo pra chegar até a condição da final. E nós sabíamos que não tinha outra opção. Era vencer ou vencer. E fizemos isso. Nos dedicamos tanto. Eu saí na reserva e infelizmente a lateral direita titular se machucou no primeiro tempo ainda. Precisei entrar, nem aqueci direito e eu estava voltando de lesão. Então eu sabia que não podia decepcionar, sabia que o time inteiro estava pensando e querendo a mesma coisa. Então sem dúvida, foi o jogo mais importante, marcante e o que eu sempre lembro quando surge alguma dificuldade pra me motivar.

O time de vocês é muito unido. Quais são as principais lideranças dentro do vestiário?

O nosso time é bem unido sim. Por reconhecermos as nossas dificuldades nos apoiamos umas nas outras pra conseguir seguir sempre treinando e em busca do objetivo. Eu tenho várias referências de lideranças lá, a Ana que tá desde o começo do projeto e tem muita experiência. A Gil que já superou tudo e mais um pouco e segue sempre na mesma pegada, dedicação e pra mim é a melhor goleira de campo que existe. Tem a Bianca, ela é muito minha amiga e exerce um papel técnico muito importante e  tem a queridona de todo mundo que é a Adri, a gente joga na mesma posição e foi ela que sempre falava pra eu treinar no Brasil, ela faz um papel dentro do campo que se tu tiver 50%, olhar pra ela e pra dedicação dela, tu chega a 200%. Poderia citar outros exemplos, o nosso grupo em si é um grupo que bate no peito e assume a responsabilidade. Então, acho que nesse sentido estamos muito bem servidas.

E o que representou conquistar a vaga para o Campeonato Brasileiro Série A-2?

Olha, eu sou uma pessoa que sempre traça objetivos e faz o impossível pra alcançar. E esse era o objetivo, pra mim foi a realização de um sonho, de um desejo, de um objetivo. Como falei, não foi algo que aconteceu. Foi algo que tivemos que dispor muitas coisas para que fosse possível. Foi algo mágico. Saber que todo o esforço valeu a pena, que toda a dedicação foi recompensada. Para o clube muito mais. Alcançamos outro patamar. A visibilidade que o Brasil de Farroupilha feminino ia ter nacionalmente, seria uma coisa nunca antes atingida.  E, ainda mais, por ser o único representante do estado na série. Com certeza, escrevemos um grande e importante capítulo na história do rubro verde.

Como foi a estréia contra a Chapecoense fora de casa?

Olha eu acabei me lesionando uma semana antes do jogo, em um treino coletivo. De minha parte, foi frustrante não poder estar disponível para a partida. Mas pensando no grupo, todo mundo estava muito preparado, focado e com muita lucidez do que precisávamos fazer. Acompanhei todos os treinamentos, mesmo de fora, até o último segundo. E eu tinha certeza que iríamos fazer uma boa partida. Felizmente conseguimos o resultado positivo e os gols para dar ainda mais confiança.

E como está a preparação para o retorno da competição?

No nível máximo. Retornamos as atividades, com todos os protocolos necessários e as gurias estão a mil. A disputa entre as posições pelo feedback que nos passam está bem acirrada. E, sentindo os treinos, o nível está cada vez melhor. O entrosamento, a dinâmica, a técnica e a compreensão de fazer o que o treinador solicita está muito boa e acredito que estamos no caminho. Claro que sempre existem coisas para melhorar, mas acredito que a nossa equipe está em um nível nunca antes atingido, tanto físico como tecnicamente.

Quais jogadoras você é fã?

Olha, tem as referências nacionais que são incontestáveis e a gente sempre tem que reverenciar por todo esforço e empenho que elas fizeram pela nossa modalidade. A Marta, Formiga, Cristiane. Mas eu gosto muito, ainda mais depois que joguei contra a Bruna Benites. Acho ela exemplar dentro de campo, técnica, tática e fisicamente. Porém, da minha posição, eu sempre assisto os jogos, lances e vídeos da Lucy Bronze. Pra mim, ela é uma referência e é a melhor da posição.

Quais seus sonhos no futebol?

Falar de sonhos no futebol é bastante amplo. Mas, falando de uma forma mais geral, eu sonho e torço para que a nossa modalidade cresça e tenha o reconhecimento que merece cada vez mais. Eu entendo que é um processo, principalmente cultural. Mas torço muito para ver estádios lotados torcendo pelas gurias, patrocinadores, competições grandes e clubes se desenvolvendo para dar um suporte ideal para que as mulheres possam desempenhar da melhor forma a prática. Tenho certeza que esse é um desejo de boa parte das atletas amadoras ou profissionais. Que o futebol possa se desenvolver e crescer.  E, um sonho mais pessoal, é que o Brasil de Farroupilha consiga o acesso para a A1. Esse é o meu sonho no momento. E estamos trabalhando muito para que isso aconteça.

Quais teus pontos fortes dentro de campo?

Eu acredito que eu me entrego muito. Tudo que tiver, eu deixo no campo. Se tiver que dar 200%, vou dar. Não existe um quase para mim. É sempre o máximo e o máximo. Me cobro muito, nos treinamentos sempre quero mais, sempre melhorar. Acho que esse é o meu maior ponto forte, sempre querer evoluir.

Você alguma vez sofreu algum tipo de preconceito por jogar futebol?

Eu já vi e ouvi, algumas vezes, os comentários do tipo joga igual mulher, tinha que ser mulher pra fazer isso. Mas eu particularmente não deixo isso me afetar. Porém, sempre que posso, combato essas opiniões com conversa e mostrando no jogo. Eu, sendo professora, entendo que existem alguns preconceitos que são culturais na nossa sociedade, porém, acredito que a conversa e a desconstrução dessas falas é a melhor forma de lidar e instruir.

O Brasil se reforçou para essa retomada? O grupo vem mais forte ainda?

Tivemos alguns reforços sim, porém algumas saídas. Mas acredito que o grupo está cada vez melhor. A competição entre as posições está grande e todo mundo tende a evoluir. Apesar de um grupo bom de atletas competindo por uma vaga no time, a competição é sempre saudável e todo mundo sempre visa auxiliar uma a outra da melhor forma. Tenho certeza que o grupo está muito forte e focado no objetivo.

Tem alguma coisa que você queira acrescentar?

Eu gostaria de agradecer pela oportunidade de estar contando um pouco da minha história no futebol e principalmente por conhecer pessoas como você, que se dedica e tenta sempre fazer a modalidade crescer. Espero que possamos sempre evoluir e seguir em busca do reconhecimento. Conto com a torcida de todo mundo pelo nosso Brasil de Farroupilha em busca do acesso.

Você hoje além do futebol tem outra atividade (emprego)?

Tenho sim. Eu sou formada em Licenciatura em Educação Física e estou cursando Pedagogia para complementar a formação. Trabalho em uma escola aqui de Caxias.

Fiquei impressionado com a história e força interior da Delaine. Ela é muito importante dentro do grupo? Motiva muito o grupo?

Cara. A Delaine é uma pessoa maravilhosa. De verdade. Ela é muito pra cima e te mostra uma força que às vezes nem tu acredita que tem. Ela é uma pessoa de luz mesmo e muito importante nesse sentido. Me lembro que ano passado, ela não ia em todos os jogos, mas sempre mandava uma mensagem pra motivar as gurias e dar um apoio. E isso são coisas aparentemente pequenas, mas que fazem muita diferença. Eu torço muito por ela e a evolução que ela está tendo na equipe é muito grande. Tenho certeza que em bem pouco tempo ela vai se tornar um dos nossos destaques.

Cara. Eu tenho um carinho enorme pela equipe de vocês. Sério mesmo, as gurias são super humildes e jogam MUUUUITA bola. Tem uma torcedora especial aqui em Caxias. Eu acho muito importante sempre ter essas equipes que projetam atletas, que apesar das dificuldades não medem esforços.

Ficha Técnica

Nome: Victoria CarpowinskiKryzozun

Idade: 24 anos

Posição: Lateral Direita

Altura: 1,60

Peso: 52 kg

Cidade: Caxias do Sul

Por: Cleo Moura

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