Opinião Homenagem

EURICO LARA, O GOLEIRO IMORTAL DO TRICOLOR GAÚCHO

No último dia 15 de junho, segunda feira, se completou 100 anos da estreia de Lara pelo Grêmio Football Portoalegrense

Por Gente Jornal

17/06/2020 às 13:16:29 - Atualizado há
Foto: Reprodução

15 de junho de 1920, em uma tarde fria do forte inverno gaúcho o estádio da Baixada no bairro Moinhos de Vento em Porto Alegre (1° estádio do Grêmio) recebia um grande público para acompanhar uma partida amistosa entre Grêmio x Juventude, a sexta partida do tricolor na temporada. Poderia ser um jogo normal como tantos outros se não fosse marcado pela estreia de, nada mais nada menos, que Eurico Lara Fonseca, que havia chegado da cidade de Uruguaiana e gerava expectativas na torcida do imortal, mas o que ninguém imaginou naquele dia é que se tratava do início de uma relação entre atleta e clube que durou por 15 anos, o que faz de Lara o goleiro que por mais tempo defendeu a meta gremista.

Lara era fenomenal, um excelente goleiro magro e alto, fazia milagre debaixo das traves, mas além de suas defesas espetaculares, o que o torna um ícone gremista é o fato de ter “morrido” defendendo o Grêmio. No dia 19 de maio de 1935 jogavam Grêmio x Santos e durante a partida o arqueiro tricolor recebeu uma forte batida no peito em um choque com o jogador santista Friedenreich onde teve que ser substituído e levado ao hospital com fortes dores, quando foi diagnosticado com uma grave doença no coração. Os médicos o aconselharam a deixar os gramados por definitivo, porém Lara não lhes deu ouvidos e seguiu jogando e, certas vezes, atuando como arbitro em algumas partidas.

Em 1935, o Campeonato Citadino de futebol era considerado, por muitos, o maior embate da rivalidade Grenal até o momento, pois era mais valorizado do que o estadual na época. O jogo final e decisivo seria, para variar, um Grenal. O momento do Grêmio era complicado, pois sofrera uma derrota na rodada anterior e o seu rival precisava apenas de um empate para se sagrar campeão, era o favorito. Lara não vinha bem de saúde e andava visivelmente abatido pelo agravamento da doença.  Por não poder jogar e com sua ausência praticamente confirmada a confiança tricolor havia caído muito para o jogo, não apenas por não ter um substituto à altura, mas também por não ter a presença de seu ídolo em campo, aquele cuja somente a presença já impõe respeito ao adversário.

O estádio da Baixada estava lotado, todos queriam esse título, as arquibancadas haviam sido ampliadas especialmente para esse Grenal e quando Lara surgiu puxando a fila do time na entrada em campo o estrondo vindo das arquibancadas da Baixada foi enorme, parecia um gol do Grêmio, a confiança havia voltado nos jogadores e na torcida. O jogo era truncado, amarrado no meio campo e o 0 a 0 persistia no placar até o intervalo, dando título ao Internacional. Lara não voltou para o segundo tempo, pois já não conseguia mais suportar as dores no peito e ficou em baixo das arquibancadas enquanto tentava se recuperar acompanhando as reações da torcida.

O jogo caminhava para seu final, o empate estava dando o título ao rival dentro da Baixada, a torcida rival começava a comemorar antes da hora (já vi esse filme algumas vezes no presente) e soltou pombos e cachorros pintados de vermelho do lado de fora do estádio, faltando dois minutos paro jogo acabar Foguinho abre o placar para o Grêmio aparando um rebote, a Baixada estremeceu. O gol tricolor atordoou o adversário, na saída de bola novamente Foguinho roubou a bola, foi até a linha de fundo e cruzou para Laci estufar os cordéis da cidadela colorada (neste momento copiei o bordão de Haroldo de Souza, narrador da rádio Grenal), estava definido o campeão citadino daquele ano, uma vitória épica do Grêmio, a capital gaúcha se transformou em uma festa.

O que não se imaginou naquele dia é que seria o último jogo de Lara como goleiro do Grêmio, cerca de um mês depois. No dia 6 de novembro a torcida tricolor chorou a sua morte aos 38 anos de idade.

O jornalista e escritor Eduardo Bueno, o Peninha, foi perfeito em sua definição sobre o ídolo, ele diz que Lara não precisava de ficção nenhuma para virar lenda, os fatos falavam por si. Sem exageros e sem firulas, seu legado é real e grandioso, mais do que o suficiente para eternizá-lo na história e isso aconteceu, o cantor e compositor Lupicínio Rodrigues colocou o nome de Lara em uma estrofe do hino oficial do Grêmio, dizendo:

“Lara, o craque imortal

Soube seu nome elevar

Hoje, com o mesmo ideal

Nós saberemos honrar.”

No último dia 15 de junho, segunda feira, se completou 100 anos da estreia de Lara pelo Grêmio Football Portoalegrense e aqui segue uma singela homenagem de torcedor a este ícone da história tricolor e também do futebol gaúcho.

Aliás, o número 15 parece perseguir as estreias de ídolos gremistas, foi também em um dia 15 de junho, porém do ano de 1980 que Renato Portaluppi estreou pelo time profissional do clube contra o Comercial do Mato Grosso do sul, na cidade de Maracaju e o resto da história a gente sabe como foi. Foi também em um dia 15 de junho, só que no ano de 1939, que nasceu um dos maiores, mais icônico e ilustre torcedor gremista, trata-se de Paulo Sant’ana, jornalista que por anos trabalho no Grupo RBS e nunca escondeu seu amor pelo Grêmio e, segundo ele mesmo, o maior responsável por colocarem Renato para jogar, pois Sant’ana o defendia com unhas e dentes.

Foi em um dia 15 do mês de novembro de 1950 que, logo após o fatídico Maracanazo da Copa de 50 que o Grêmio, com a sua linda camisa azul celeste e calções pretos (uniforme parecido com o da seleção Uruguaia), se tornou o primeiro clube de fora do RJ a vencer dentro do Maracanã batendo o Flamengo por 3 a 1 com gols de Geada, Clory e Ballejo, reza lenda que deveria ser 4 a 1, pois anularam um gol legítimo do Grêmio.

A título de curiosidade e informação, Ramão Ballejo, atacante autor do terceiro gol gremista na vitória sobre o Flamengo, é bajeense, começou sua carreira no Grêmio Esportivo Bagé e depois se transferiu para o Grêmio da capital, é tio do ex prefeito de Hulha Negra Marco Antônio Ballejo Canto e do atual vice prefeito da cidade Marco Igor Ballejo Canto.

Ainda tem mais tempo pra outra coincidência, a fundação do Grêmio foi também em um dia 15, porém de setembro de 1903.

Que me desculpem os leitores que torcem pro time rival, mas como gremista não poderia deixar passar em branco este marcante dia 15 de junho.

Por: Crizanto Alves Acosta

Fonte: Redação GJ
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