Política

"Afinal a política é um ambiente hostil para as mulheres?"

O Gente Jornal conversou com vereadoras de Bagé, de Hulha Negra e Candiota para darem sua visão e posicionamento sobre esta situação.

Por Gente Jornal

21/06/2021 às 12:09:44 - Atualizado há
Foto: Montagem/GJ

Mesmo as mulheres representando mais de 51% da população brasileira, na política, ainda, vimos poucas sendo eleitas e/ou ocupando espaços de destaque. E, aquelas que conquistaram seu lugar, muitas vezes acabam passando por situações de humilhações por determinados homens.

As mulheres ao longo dos anos conquistaram muitos direitos, um dos mais importantes é o voto, no Brasil passou a ser permitido oficialmente a partir do Código Eleitoral de 1932. Mas mesmo depois de tanto tempo a participação feminina neste meio, muitas vezes dito de homens, não é tão significativo. Na última eleição, a participação feminina, de acordo com a Justiça Eleitoral, elas representaram 33,6% do total de 557.389 candidaturas.

Em consequência o número de mulheres eleitas também é inferior ao de homens. Em Bagé não é diferente, das 17 cadeiras do legislativo, apenas três são ocupadas por mulheres.

Devido ao embate político entre a vereadora Caren Castencio (PT), e o presidente da Câmara bageense, Augusto Lara (PTB). Levantou o questionamento: A mulher é coagida no meio político?

Lembrando que o Partido dos Trabalhadores emitiu nota de repúdio sobre o caso. “Sem qualquer pudor, a companheira Caren Castencio, a primeira vereadora negra eleita da história de Bagé, vem sofrendo sucessivos ataques machistas e injustificáveis por parte de vereadores da base do governo municipal, principalmente do presidente da Câmara de Vereadores, Mário Augusto Lara”, trecho da nota.

Levando em consideração este acontecimento e somado com tantos outros comprovados pela mídia. Como o caso da deputada estadual Isa Penna (PSOL), que teve um dos seus seios apalpado pelo deputado Fernando Cury (Cidadania), durante uma sessão extraordinária; entre outros que por medo, mulheres acabam não denunciando.

O Gente Jornal conversou com vereadoras de Bagé, de Hulha Negra e Candiota para darem sua visão e posicionamento sobre esta situação.

Beatriz Souza (PSB)

A vereadora de Bagé falou:“A política, assim como a sociedade, tem o histórico de ser um ambiente hostil, ou ao menos, pouco receptivo a mulheres, seja pela predominância de homens, seja pelo machismo estrutural que se replica dentro de espaços de poder. Nesse sentido, o ocorrido com a deputada do PSOL Isa, nada mais é que a quebra da última barreira de tolerância, quando o assédio se torna físico, entretanto nós, mulheres da política, sabemos que circunstâncias de assédio sexual e moral são recorrentes e transcendem nossos mandatos, por vezes tocando nossos corpos ou nos cerceando de exercermos nossa atividade parlamentar.

O machismo que tão bem conhecemos das nossas relações diárias tem um que é imenso dentro do espaço político: aquela velha percepção de que a mulher não tem capacidade ou, tendo capacidade, precisar de outorga de qualquer homem para validação dos seus atos, aqui dentro (Legislativo), é agudo.

E, não é só isso, posicionar-se de forma acentuada, como todo parlamentar faz, é o suficiente para ser taxada disso ou daquilo, de louca ou de histérica; quando fazemos cobranças, podemos ser facilmente alvos de adjetivos pejorativos, afinal, é uma cobrança vinda de uma mulher que, apesar de ter chego onde os homens chegaram e pelo mesmo método - no meu caso, com métodos mais honestos - é menos válido.

Enfim, é uma batalha diária para desconstrução de uma sociedade patriarcal, onde mulheres ainda não vistas como seres reprodutivos, sexualizados e inferiores intelectualmente. Com certeza, com o avanço das pautas feministas nos últimos anos os avanços são enormes, considero minha eleição e reeleição, assim como a ampliação de cadeiras femininas em todo Brasil, como uma grande demonstração de que as mulheres podem e devem ocupar esses espaços com muita competência e ética, pois certamente somente a partir da tomada desses espaços é que avançaremos as pautas feministas, tornando assim, os espaço políticos menos excludentes, seja para mulheres, LGBTQI+, indígenas, etc”.

Claudia Messias (PTB)

A outra edil bageense, que ocupa uma das três cadeiras do legislativo, contou que no seu primeiro ano como vereadora em Bagé, não passou por nenhuma situação semelhante e nem considera um local hostil para mulheres. E, nos seus muitos anos no meio político não presenciou este tipo de comportamento por parte dos homens. Que o que há, são debates mais calorosos e que se tem que entender que sempre há dois lados de uma situação e posicionamento político.

Luana Vais (PT)

A vereadora de Candiota falou que este é um tema a refletir e se dar conta do quanto a mulher luta por seu espaço. “Nós lutamos muito para conquistarmos o direito do voto, a gente lutou para conquistar o direito de ocupar espaços públicos, eletivos, cargos de confiança, mas ninguém disse que depois que a gente chegasse nesses cargos, que iria ser fácil e que tudo se resolveria. Apensar do desafio, estamos aqui para fazermos a diferença de forma igual ou até melhor.

Então, essa para mim é uma grande lição, cada vez mais é importante darmos as mãos e marcar o nosso território e de dizer assim: A gente chegou até aqui, vai ocupar espaço, de fato, não estamos aqui simplesmente por estar!

Estaremos sempre apoiando umas as outras e que possamos contar também com o apoio dos homens. Que entendam que as mulheres também tem capacidade de desenvolver as mesmas tarefas, os mesmos cargos e contribuir de forma igualitária”, comentou a vereadora.

Tanira Ramos (PTB)

A vereadora de primeiro mandato, do município de Hulha Negra diz ser fundamental a inserção da mulher na política. “ Sabemos que a maioria do eleitorado é feminino, só que se faz necessário ampliar um pouco mais essa representatividade. Para que possamos estar inseridas nas tomadas de decisões de nível estadual e federal. Já estamos ampliando nossa representatividade feminina, porém, trazendo isso para o âmbito municipal, em especial aqui para Hulha Negra, nessa legislatura, eu sou a única representante feminina. Porém entro para a história do município, por ser a mulher mais votada em todos os tempos. O que me dá uma grande responsabilidade e compromisso de fazer um trabalho com excelência. Com relação a inserção das mulheres, isso só vai ser possível quando mais mulheres tiverem a coragem de colocar seus nomes à disposição e aceitar o desafio de trabalhar pelo povo.

Apensar do meio político ser um tanto quanto hostil, é necessário um posicionamento firme, não podemos recuar, traçando o nosso perfil político de uma de certa forma que as pessoas possam nos enxergar como uma fonte da inspiração.

Os conflitos fazem parte do caminho, mas o que deve aí prevalecer é o nosso desejo de implantar, trabalhar pelo bem comum. A gente observa que existem situações de assédio moral e até sexual, o uso de palavras agressivas, porém isso não ocorre só na política, é inerente a nossa vida. Eu procuro me fazer ouvir dentro da Casa, não posso me queixar porque nestes quase seis meses de mandato não tive nenhuma situação depreciativa”, finalizou a vereadora hulhanegrense.

Fonte: Redação GJ
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