A partir da década de 1940, o programa Colégio no arfoi sucesso de audiência, com aulas de português, inglês, espanhol, francês, italiano, história do Brasil, geografia e ciências naturais. “Por exemplo, em 1954, foram matriculados 6,5 mil alunos, que eram também atendidos pelos Correios, por onde recebiam o material. E esse programa, o Colégio no ar,era diário e era apresentado às 7h e às 20h. Então os alunos se acomodavam conforme as suas necessidades. Foi um programa muito importante na história da Rádio MEC”, relembraLiana Milanez.
O historiador Thiago Gomide, presidente da Rádio Roquette-Pinto, aponta que a ideia de rádio escola não nasceu no Brasile foi inspirada emexperiências de outros países. “Mas Roquette-Pinto e outros pensadores levantaram a importância desse veículo ser utilizado na educação -não para substituiras salas de aula, mas funcionando como um pólo de apoio aos professores”, esclarece.
Neste contexto, em 1934 surge uma emissora de rádio criada para servir às escolas, com professores ao microfone e um sistema de envio de cartas. Era a Rádio Escola Municipal do Distrito Federal, fundada por Edgar Roquette-Pinto e Anísio Teixeira. No final da década de 1940, a emissora passou a se chamar Rádio Roquette-Pinto. Conheça a história da emissora no episódioda sérieCem anos do rádio no Brasil,daRádio MEC:
A também pesquisadora Marlene Blois relembra outra iniciativa que fez sucesso em 1941 na Rádio Nacional: a Universidade no ar. “A proposta era focar nos professores do ensino secundário, que era um grande problema na educação brasileira. O programa chegou a quase cinco mil radioalunos no primeiro ano”. Outro marco foi aproposta dos cursos básicos de educação do Sistema do Rádio Educativo Nacional (SIREN), capitaneados pelo Ministério da Educação, que funcionou de 1957 a 1963. “Um ano depois de criação do SIREN, já eram 11 emissoras irradiando seus cursos. Em 1961, já eram 47 emissoras. A ideia aí era um rádio que se abria à discussão de um rádio formador de um cidadão mais crítico e participativo”, diz Marlene Blois.
Na década de 1970, o governo criou o Projeto Minervapara utilização da rádio em prol da educação de adultos no país. Segundo divulgou o governo, o projeto teria beneficiado, na primeira fase, pelo menos 175 mil alunos ouvintes, em 19estados. Ainda de acordo com o levantamento, nasegundafase do projeto, foram produzidos 560 programas-aula. Calcula-se que foram beneficiados 370.381 alunos, em ao menos 3.813 municípios (osnúmeros constam no livroRádio MEC: herança de um sonho, de Liana Milanez).
O Minerva possibilitava, por exemplo, que os alunos que saíam do Mobral(sigla deMovimento Brasileiro de Alfabetização, iniciativa criada nos anos 1970 para alfabetizar a população urbana iletrada de 15 a 35 anos)pudessem continuar os estudos no primeiro e segundo grau da época (ensino fundamental e médio)via transmissão obrigatória de 30 minutos diários por todas as emissoras e uma hora e quinze aos fins de semana. Marlene Blois detalha como as aulas funcionavam: "A cabeça de rede era a Rádio MEC.O aluno que perdesse a transmissão pelo rádio podia recuperar na discussão com os colegas. Essa pedagogia foi criada pela equipe do Projeto Minerva da Rádio MEC”.
Em um dia, a programação, por exemplo, reunia ensinamentos de português e história (15 minutos por aula). Nooutro dia, os alunos ouviam os professores de matemática e ciências. Os alunos recebiam osfascículos impressos gratuitamente, pelos Correios, e podiam acompanhar as aulas também em lugares chamados de radiopostos, onde havia um monitor e um aparelho de rádio.
As aulas tinham linguagem popular e efeitos sonoros (ouça um trecho de uma radioaula abaixo):"Quantas vezes, numa noite estrelada, nós paramos para olhar o céu e nos perguntamos romanticamente: 'que mistérios haverá por trás daqueles pontinhos brilhantes?'".
Entre 1973 e 1974,o projeto Saci fez com quedois mil professores leigos fossem treinados e 16 mil alunos de escolas de primeiro grau recebessem esses programas de ensino. A rádio, como chega aos diferentes rincões do país, também foi utilizada, na década de 1980, para o projeto Seringueiro, realizado no Acre, inspirado na filosofia de Paulo Freire. “Foi um projeto piloto, que teve uma didática completamente diferente. Foram professores da Rádio MEC para o Acre. Foi feita uma pesquisa de vocabulário, conversamos com os seringueiros sobre o que queriam em termos de rádio educativo. Os seringueiros foram realfabetizados”, afirma Marlene Blois.
Ouça episódio da sérieCem anos do rádio no Brasilsobre rádio e educação:
Em comemoração aos cem anos do rádio no Brasil, completados em 7 de setembro de 2022, aAgência Brasilpublica uma série de dez reportagens sobreas principais curiosidades históricasdo rádio brasileiro.
O centenário do rádio no país também será celebrado com ações multiplataforma em outros veículos daEBC,como aRadioagênciaNacionale aRádio MECque transmitirá, diariamente,interprogramas comentrevistas e pesquisas de acervo para abordar diversos aspectos históricos relacionados ao veículo. A ideia é resgatar personalidades, programas e emissoras marcantes presentes na memória afetiva dos ouvintes.
*com entrevistas feitas porCarol Barreto, daRádio MEC