Alunos, professores e comando de greve foram ouvidos pela comunidade candiotense
O dia de concentração de todas as escolas de Candiota que ocorreu durante todo o dia de ontem na Escola Assis Rosa de Oliveira (Faro) se encerrou na Câmara de Vereadores onde foi aberta a tribuna da Casa pela Mesa Diretora para que o representante dos estudantes João Victor, aluno do 3° ano do Faro, a professora Liziane Silveira da Escola Dario Lassance e pelo comando de greve do CEPERS/Sindicato por Bagé Nadia La Bella fizessem seus respectivos pronunciamentos.
Com um plenário lotado e representativo com diretoras de escolas, pais, alunos, sindicalistas do município, a diretora Gladis Veloso Deble e a conselheira Itamara Santos do 17° Núcleo do CEPERS/Sindicato, além de secretários de governo, do prefeito Adriano Castro dos Santos e de todos os vereadores com exceção da vereadora Andréia Rangel – Déia (MDB) que está de atestado. Todos os edis fizeram seus pronunciamentos em defesa do magistério gaúcho.
Para o estudante João Victor, aquilo que ele fez questão de enfatizar “nossa greve’, o movimento que teve origem em um grupo de WhatsApp do 2º ano informando sobre a situação dos professores desencadeou toda a ação iniciada pela escola.
Em sua reflexão afirmou que as pessoas não os tenham por alienados só porque são jovens. E salientou:
– Os professores sem reajuste de salários há cinco anos e sabemos que o pacote vai congelar por mais dez anos também. Com 47 meses que eles recebem atrasados e parcelados, que precisam viver de empréstimo no Banrisul pagando juros. Sabemos que eles receberam dia 18, R$ 700,00 do salário de outubro e só vão receber o restante em três parcelas no mês que vem e não sabem o que vai acontecer com os salários de novembro e os meses seguintes. Nós temos a exata noção de que não é possível manter as necessidades básicas de uma pessoa solteira em uma casa com R$ 700,00, quem dirá uma família.
João Victor considerou também muito injusto que governos concedam isenções fiscais e não cobre dívidas gigantes de grandes empresas e acabem por arrumar soluções arrancando direitos dos professores e investimentos para educação em uma clara demonstração para acabar com o futuro da escola pública. “Lutar pelos professores neste momento é lutar por justiça, é lutar por nós mesmos, porque eles nunca desistiram da gente”, concluiu.
A professora Liziane agradeceu o apoio, o engajamento dos pais, alunos e comunidade candiotense tão engajados na luta do magistério gaúcho.
Um fator que chamou muito atenção em sua fala, principalmente para cidades como Candiota, Hulha Negra entre outras tantas, é sobre a remuneração pelo ‘difícil acesso’. “Que professor conseguirá chegar em Candiota, pagar seu ônibus, sua van sem o ‘difícil acesso’?”, questionou.
Liziane recordou que dos profissionais comprometidos, dedicados a situação atual nas escolas públicas fazem surgir profissionais doentes, desmotivados e depressivos. E isso não é só desvantagem do magistério, mas também da Brigada Militar e Polícia Civil que estão passando pelos mesmos percalços.
A professora fez um relato da realidade dos professores que lecionam em Candiota e são de outras cidades que ao se deslocarem pedem carona. “Expostas ao frio, o calor, a chuva e ao assédio. As incertezas até mesmo se vão conseguir chegar nos seus compromissos pois a maioria dos professores tem 40 ou 60 horas”, apontou e resignada com as posições equivocadas e longe de um conhecimento de causa que criticam a greve. “Isso quer dizer, então que a professora não pode ter carro, não pode viajar e comprar. Não é um ser merecedor de vantagens que os outros desfrutam, tem que ser submisso? Pagar para trabalhar? Não temos benefícios e o pouco que nós temos querem nos tirar”, desabafou.
Liziane ainda pediu o apoio aos professores “Porque a educação não está em liquidação. Não somos mercadoria. Somos professores, servidores, enfim, funcionários, formadores de opinião”, enfatizou ao término de sua fala.
Para Nadia La Bella o governador ao protocolar o ‘pacote da maldade’ que acaba com o plano de carreira do magistério no Legislativo gaúcho foi viajar, no mesmo dia, para fazer um curso em Nova York “Essa é a preocupação do governador com a educação do Rio Grande do Sul”, disparou.
E acusa o governador que ao propor ínfimo avanço financeiro para quem faz doutorado e pós doutorado desestimula que os professores busquem novos conhecimentos, “Quem vai estar estimulado para investir em uma carreira acadêmica”, condenou, se referindo que o pensamento de Eduardo Leite parte de uma lógica perversa, “Para que escola pública tem que ter doutor, especialista, professor com mestrado? Não precisa!”, questiona e afirma que isso acontece porque a escola pública interessa aos filhos dos trabalhadores e não aos filhos da elite. Que por isso os investimentos e a qualidade do ensino fica caro para o Estado. “Só que a educação não é gasto é investimento”, diz e afirma que esse mesmo Estado não executa os grandes sonegadores e questiona o magistério, e o funcionalismo ter de pagar a conta, que na verdade são os menores salários entre os três poderes. “Vão nos tirar tudo e vão seguir não nos pagando”, destacou.