Duas mulheres gaúchas e empoderadas discorrem sobre educação, desigualdade de gênero, racismo, autoestima e inteligência emocional em bate-papo ao vivo
Sororidade, inteligência, coragem e vontade adjetivam a noite de quarta-feira (14), com a palestra "Educação para o futuro do trabalho feminino". Com duas mulheres empoderadas e autoras de histórias admiráveis, o Experience Senac 2020 proporcionou ao público ouvinte uma noite repleta de reflexões e muito aprendizado sobre a evolução e o futuro do mercado de trabalho feminino, e sobre diversidade, com dois grandes nomes: Kelly Gusmão, sócia, co-fundadora e CPO da Warren e Lisiane Lemos, professora, executiva de negócios e reconhecida pela revista Forbes como uma das jovens com menos de 30 anos de idade que fazem a diferença no Brasil.
Foi com muita expectativa do público que as palestrantes iniciaram o bate-papo intimista e inclusivo. As duas gaúchas iniciaram a conversa contando um pouco sobre as suas trajetórias e o que esperam do presente e do futuro sobre a perspectiva feminina e diversa no mercado de trabalho. Assuntos extremamente pertinentes e tabus da sociedade ainda hoje foram discutidos, como as posições das mulheres no mercado de trabalho, diversidades, mulheres negras e pessoas da comunidade LGBTQIA+.
"Eu buscava a minha independência financeira", foi com essa frase que Kelly Gusmão deu o pontapé inicial ao contar sua história de vida. E, buscando melhores condições para ajudar a família, a atual co-fundadora da Warren pegou as malas e com mil dólares foi para os Estados Unidos tentar, arriscar e fazer dar certo. Como ela mesma diz, "É preciso combustível de energia emocional para fazer o oposto. A escolha está em nós. A gente que escolhe como vai reagir ao que chega na gente. Temos que sair do piloto automático e dirigir a nossa vida com consciência". Foram 10 anos nos país americano, que resultaram em aprendizados que agregaram a Kelly bagagem suficiente para criar e fomentar questionamentos e construir uma carreira admirável.
E, falando sobre o trabalho feminino, com sua história como exemplo, a empreendedora contou que é formada em administração de empresas e escolheu a formação por ser uma área com um leque de oportunidades muito amplo e infinitas possibilidades. Ela buscava independência financeira, lembra? "As mulheres, basicamente, não são tão protagonistas da sua vida financeira. Eu pensei: sou mulher e trabalho no mercado financeiro, e me questionei como aproximar as mulheres deste mundo". Foi então que a Warren Equals nasceu. Hoje, a empresa auxilia mulheres a entrar no mercado financeiro e permanecer em posições de destaque ou de equidade aos homens.
A palestrante comentou também que percebia muita desigualdade no mercado profissional o qual ela estava inserida e sempre quis fazer diferente, através da construção de uma empresa sólida e inclusiva: "Nós mulheres somos minorizadas, assim como os negros, por questão histórica e de linha do tempo. Mas nós estamos chegando, ocupando mais espaços e preenchendo cargos de liderança nas empresas". Kelly comenta que, contudo, para esse cenário sofrer alterações definitivas e ainda mais relevantes, as mulheres precisam buscar sempre a sua melhor versão a cada dia, e exemplifica: "Não vou ficar repetindo a opinião dos outros. A gente precisa se informar. A educação é a resposta, a informação é a resposta. E ela está lá, é facultativa, vai até ela quem quer. É só a gente buscar a informação. Isso é o futuro da educação, isso é a independência financeira feminina. É assim que a gente vira protagonista da nossa vida".
Passando a palavra para uma das mulheres mais influentes do mundo, Lisiane Lemos, Kelly Gusmão finalizou sua vez de fala com muitos elogios e reafirmou: "Eu acredito na evolução da mulher, do trabalho, da sociedade. Eu acredito! Porque se eu não acreditasse, eu nem levantava da minha cama".
No embalo do empoderamento feminino, Lisiane Lemos, assumiu o posto com muitos elogios da colega de palestra. Foi então que uma das mulheres negras mais influentes do mundo na categoria Negócios e Empreendedorismo, reconhecida em 2018 pelo Most Influential People of African Descent da ONU, abriu a segunda parte da noite falando sobre racismo e educação. "A possibilidade de educar educadores, educar pessoas para lidar com situações de racismo e de violência de gênero ou das questões de gênero no ambiente escolar era um potencial exponencial de transformação que eu tinha". A professora universitária, formada em direito, comentou que foi na infância que percebeu a importância da autoestima feminina e negra em busca do empoderamento feminino: "Grande parte dos meus traumas educacionais - aí a gente fala da escola como um espaço que ao mesmo tempo educa mas pode te traumatizar - é de contar essa história das mulheres como pessoas submissas, não somos educadas para ser o que a gente quiser."
"Eu nunca quis ser reconhecida, queria apenas encontrar pessoas como eu". Sim, Lisiane Lemos nunca buscou um reconhecimento da Revista Forbes ou ser considerada uma das mulheres negras mais influentes do mundo. O que ela buscava era apenas igualdade e visibilidade negra. Foi então que resolveu morar em Moçambique. Lá trabalhou com processos organizacionais e expansões, e aprendeu sobre empatia e liderança. Voltando ao Brasil, ingressou na empresa Microsoft e lá se engajou em movimentos pela inclusão de pessoas negras na empresa, como o Blacks at Microsoft. Mas não foi só na Microsoft que Lisiane liderou movimentos: durante a pandemia, em sua terra natal (Pelotas-RS), ela contou que junto de mais oito incríveis mulheres fundaram um projeto 100% digital, voluntário e pioneiro, focado em alavancar o networking das novas conselheiras de administração negras desse país. "O meu propósito é maior que o meu medo. E é nessa educação que nós temos a compartilhar e agregar no outro. Se você vive em um mundo individualista, se você não divide com o outro todo o conhecimento, toda oportunidade, todo o privilégio que você teve, você está no lugar errado. Você não vai se dar bem no futuro, porque o futuro é colaborativo, ele é empático, ele é de cocriar, ele é de co-fundar, ele é de colaborar".
Finalizando o empoderado e inspirador bate-papo, Lisiane aposta no futuro da educação e do trabalho feminino como resultante de um processo com diversos pilares, envolvendo muita empatia e força de vontade: "Se você quer construir um futuro melhor para o outro, você tem que se envolver de forma proativa, propositiva e investindo, porque sem apoio financeiro não fazemos nada".
Respondendo às perguntas do público participante as palestrantes falaram sobre como a educação contribui para reduzir a desigualdade de gênero. Lisiane respondeu: "Falando de educação e contribuindo para a igualdade de gênero, olhando para as estatísticas, as mulheres acabam estudando mais do que os homens para ocupar os mesmos cargos e receber menor salário. Então, infelizmente o nosso grande desafio não é na só na educação. Nós temos dois trabalhos: primeiro, nós mulheres ou nós interessados em diversidade nos educarmos para mostrar o nosso valor, para a gente replicar. E o segundo é para mostrarmos no mercado de trabalho qual o valor agregado que a gente traz diante dessas experiências diversas."
Kelly corroborou: "é um trabalho muito mais emocional do que o estudo em si, muito mais uma libertação de autoestima, de acreditar e realmente se jogar de cabeça. Então, mulherada, se joguem! Não esperem ninguém escolher vocês ou dar reconhecimento. Se reconheçam, se joguem. Só assim que vamos conseguir as coisas: fazendo!"
Até o dia 16 de outubro, sempre às 19h, no canal do YouTube do Senac-RS, o Experience Senac 2020 apresentará um diálogo com a participação de dois expoentes dos temas centrais que debaterão sobre os possíveis futuros para a educação. O tema será abordado em diversos contextos, que contemplam tópicos como mercado de trabalho, trabalho feminino, inovação e hibridismo na educação.
Mais informações e inscrições no site www.senacrs.com.br/experience. Confira abaixo a programação:
15/10 (quinta-feira) - Diálogo especial do Dia do Professor
O futuro da educação é híbrido. Que desafios enfrentamos?
Horário: 19h
Palestrantes: Vera Cabral e Anna Beatriz Waehneldt
16/10 (sexta-feira)
Educação e Inovação
Horário: 19h
Palestrantes: Rodrigo Filgueira e Gustavo Reis